
Como poderá, a União Europeia, libertar-se do petróleo russo?
Na elaboração das medidas que compõem o sexto pacote de sanções contra Putin, a união europeia, em 4 de maio, propôs um embargo gradual ao petróleo e seus derivados vindos da Rússia, até à libertação total dessa dependência.
De acordo com as declarações da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, “será muito difícil” prescindir desses fornecimentos de forma radical. O desmame terá que ser gradual, dada a severa dependência que alguns países, nomeadamente a Alemanha, têm para manter o seu equilíbrio de desenvolvimento. Isto não quer dizer que “Putin não deva ser obrigado a pagar um preço muito substancial pelo hediondo crime que cometeu”.
O objetivo é começar a prescindir do petróleo russo, bruto e refinado, por ocasião da celebração das festividades de 9 de maio, quando Moscovo comemorar a vitória sobre o nazismo de Hitler. No entanto, a cessação total das importações de petróleo russo não é para já. Se a medida for adotada pelos Estados membros, ela será “gradual e ordenada, de modo a estabelecer rotas alternativas de abastecimento e minimizar o impacto desta decisão nos mercados mundiais. A UE deve desistir das entregas de petróleo bruto dentro de seis meses e dos produtos refinados até o final do ano”, disse von der Leyen.
Se atendermos a que a Rússia forneceu 30% do petróleo bruto e 15% dos produtos petrolíferos comprados pelos europeus, e que a conta, só do petróleo bruto, foi de $80 mil milhões de dólares, e que a conta do gás foi de $20 mil milhões … ficaremos com uma boa ideia do rombo que este embargo causará nas finanças russas.
No entanto, os efeitos destas medidas far-se-ão sentir duramente na europa, embora de modo diferente consoante os países. Deste modo, foi proposta uma derrogação para permitir que a Hungria e a Eslováquia continuem as suas compras à Rússia até ao final de 2023, uma vez que estes dois países não têm ligação ao mar sendo totalmente dependentes das entregas através do oleoduto Druzhba, devido à falta de ligações com o resto da UE.
Se o projeto de embargo for implementado, que soluções devem ser consideradas para prescindir do petróleo russo? Recorrer a outros produtores de ouro negro como Estados Unidos, Venezuela, Noruega ou países do Médio Oriente pode ser um deles, mas nenhum deles pode substituir sozinho os volumes exportados pela Rússia ou impulsionar sua produção, por razões de deficiências logísticas.
Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro, multiplicaram-se os apelos para que os países da OPEP+, aliança que foi criada em 2016 para regular o mercado de petróleo, produzam mais petróleo para ampliar a oferta, coisa que até agora não teve sucesso. A cautela dos membros da aliança é reforçada pela situação na China, o maior importador de petróleo do mundo, que atualmente enfrenta o seu pior surto epidêmico desde 2020 e viu sua atividade econômica desacelerar acentuadamente.
Contudo, os representantes dos treze membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e seus dez parceiros (OPEP+) acordaram assim, quinta-feira, 5 de maio, abrir modestamente as comportas e “ajustar para cima a produção total de 432.000 barris por dia para o mês de junho”, disse a aliança em um comunicado após uma breve reunião.
Aqui, novamente, a aliança OPEP+, ansiosa por permanecer unida e não ofender Moscou, “certamente não salvará o dia”, lança Ipek Ozkardeskaya, analista do banco Swissquote, entrevistado pela Agence France-Presse. “O cartel deixou claro que a guerra na Ucrânia não era motivo de preocupação” para o mercado, lembra.
Mas será que a OPEP+ realmente tem a chave para o problema? Perante a falta de investimento em infraestrutura petrolífera em alguns países membros e problemas operacionais, o cartel deixa, regularmente, de cumprir as suas quotas de produção.
Poderá parte de a solução residir então numa maior sobriedade por parte dos consumidores europeus? A Agência Internacional de Energia (AIE) listou dez medidas cuja implementação imediata reduziria a
demanda de petróleo em 2,7 milhões de barris por dia nos países desenvolvidos, ou um quarto da produção de petróleo bruto da Rússia. Estas medidas vão desde a redução dos limites de velocidade de 10 quilómetros por hora nas autoestradas até à introdução do teletrabalho até três dias por semana, quando possível, através da utilização de transportes públicos. A economia permitiria, lembra a AIE, aproximar-se do objetivo estabelecido na Europa de deixar de emitir CO2 em 2050.
Em boa verdade … tudo continua nebuloso e dependente da velocidade com a qual as instituições e os organismos envolvidos nesta temática, consigam ajustar os seus interesses individuais … ao supremo interesse da humanidade.